Te amo, nem sei se te amo

segunda-feira, 02 maio 2011, 21:50 | Tags: , , , , | 4 comentários
Postado por Fábio Betti 

Não sei ao certo como te amo, mas sei muito bem que você não me ama da mesma forma. Não sei ao certo como você me ama, mas sei muito bem que não é o mesmo amor que cultivo por você. As coisas que não sei, não as sei porque não as consigo pensar. E as coisas que sei, as sei simplesmente porque as sinto lá no profundo do meu ser e nem ouso explicar.

Se amamos diferentemente, o que amamos? Ou deveríamos perguntar a quem amamos? Amamos no outro a nós mesmo? Amamos o que gostamos de nós que o outro nos revela? Ou, de fato, amamos esse outro em quem conseguimos identificar um pouco de nós e outro tanto do que nós não somos?

Faço-me essas perguntas desde que me vi apaixonado pela primeira vez pela menina mais bonita da classe. Só que, a despeito de meu amor desmesurado, seu coração já era de outro. A mim, nenhum beijo ou sorriso, nenhum coração descompassado, nenhuma palavra ou gesto de carinho, nem mesmo uma troca tímida de olhares. E, mesmo assim, eu a amava com todas as minhas forças e fraquezas – mesmo que, para o meu amor, ao invés de cuidadora, ela fosse o seu carrasco.

A quem, de fato, eu amava? A menina que me desprezava certamente não era. Minha paixão, dedicava à outra que habitava o mesmo corpo, mas que só me aparecia em sonhos. Ilusão? De modo algum, pois eu sonhava acordado e eram os mesmos olhos que viam as coisas do mundo que viam a beleza diáfana do objeto de meu amor. Era amor real, amor de carne e alma. Mas era amor de um lado só – um lado amando sozinho um outro lado, que só uma pequena parte parecia se deixar amar, a parte que eu sentia que sorria para mim. Sorria de um jeito que só eu podia ver, de um lugar que só eu podia alcançar.

Da primeira paixão, ficaram essas lembranças, certamente embaçadas e recriadas pelo tempo. Muitas outras paixões se seguiram. Algumas permaneceram platônicas, nas infinitas possibilidades do amar que nunca se concretiza. E as que concretizei foram sempre um grande mistério. Como saber o quanto ela me ama? Como medir meu próprio amor, para depois compará-lo ao dela?

Dizem que ciúmes é um indicador claro do amar. Só se tem ciúmes de quem se ama, é o que dizem. No entanto, suporto tanto o ciúmes quanto uma corda apertada no pescoço. Ao invés de qualquer traço de amor, só vejo dor e medo. Tenho tanto ojeriza ao ciúme que, se o percebo em mim, me desprezo.

Também dizem que quem ama cuida. Mas cuidar é como o amar. Cuidar para mim é diferente do que é cuidar para você. Têm cuidados suaves e intensos. Cuidados sutis e pegajosos. Cuidados frequentes e intercalados, que aparecem só em situações extremas, mas de uma forma tão presente que ninguém duvida de sua essência amorosa. Portanto, usar cuidado como um indicador para medir o amar é outra tática perigosa e pouco confiável.

Quanto mais procuro uma forma para medir o amor, mais me frustro. E me pergunto por que essa compulsão de precisar saber o quanto o outro me ama e ainda comparar com meu próprio amor por ele. Vai ver aquela música dos Engenheiros do Hawaii está mesmo correta: “você precisa de alguém que te dê segurança, senão você dança.” Precisamos de segurança para estar bem com o outro. Precisamos que ele diga que nos ama, mesmo que essa frase não tenha absolutamente nada em comum com a mesma frase quando pronunciada por nós.

Quando o outro diz “eu te amo”, quero tanto escutar que acabo mesmo escutando “eu te amo como e quanto você gostaria de ser amado”. E aí, como Luis Melodia, sussurro para o meu amor, mas bem baixinho, para só eu mesmo me escutar, “tente passar pelo que estou passando, tente apagar este teu novo engano, tente me amar, pois estou te amando. Baby, te amo, nem sei se te amo”.

* A foto que ilustra essa matéria registra a escultura “Eros e Psique”, de Antonio Canova.

4 comentários para “Te amo, nem sei se te amo”

  • Clarissa disse:

    Puxa vida, Fábio!. Que belíssimo texto esse. Profundo, sincero, reflexivo e verdadeiro. Está tão abrangente que, por mim, nem há o que comentar. Obrigada por esse presente.
    Beijão

  • Valéria Salgado disse:

    Interessante e bonito o texto!
    Com certeza do começo ao fim, algumas pessoas vão se enxergar em algum parágrafo e vão se colocar ou até mesmo repensar e pensar nas relações em que vivem ou viveram e até mesmo encontrar uma resposta que ficam martelando dentro delas.
    Eu pelo menos, me vi por ai…. rsrsrs
    bju!

  • Andreia disse:

    Muito belo e interessante, remete à vários pontos já vivido.

  • flavio sandro disse:

    Sem duvida muito lindo o texto adorei
    viagra

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