Este aqui sou eu. Sou o primogênito, o filho que vem primeiro. O primeiro filho a trocar fraldas, o primeiro filho a falar mamá e papá.

Quem chega primeiro tem o gostinho de não ter concorrência. Até que surge um irmãozinho…
E aí o primeiro filho vira o filho mais velho.

Em minha família e, talvez, em muitas outras, a principal função do filho mais velho é dar o exemplo.
No meu caso, resolvi juntar as duas coisas e segui por anos dando exemplo como primeiro aluno da escola.

E, quando me tornei um adulto, segui dando exemplo para meus irmãos, até quando eles também já eram adultos.

Nada mais natural, portanto, que eu recebesse primeiro a notícia que minha mãe, subitamente acometida por um câncer incurável, viveria, no máximo, mais um ano.

Assim como natural também era minha função de dar a notícia para meus irmãos.

Apesar de ser o segundo filho, meu irmão nunca foi o segundo em nada, muito menos o primeiro.
Naquele verão de 1995, ele trabalhava como garçom em um sushi bar e passava os dias pegando onda.

Minha função era contar-lhe a história com delicadeza e, logo em seguida, ampará-lo em sua dor.

Mas antes que eu pudesse concluir, ele simplesmente olhou para mim com aqueles profundos olhos azuis e me segurou forte em seus braços.

Aí fui eu que não consegui mais falar nada.

De repente, meu irmão mais novo, que tinha fama de ser a ovelha negra na família, estava ali, me dando uma aula de maturidade e sabedoria. Esse irmão que apareceu depois de mim e que, naquele momento, era o irmão mais velho que eu nunca tive e que iria nascer justamente no momento em que eu mais precisava dele.