Como me tornei um viciado no Twitter

domingo, 05 dezembro 2010, 07:41 | Tags: , , | 5 comentários
Postado por Fábio Betti 

Pode parecer que forço a barra com um título como esse, mas, quando observo alguns comportamentos que passei a ter desde que me tornei um heavy user do Twitter – para quem não conhece, uma rede social, onde se “conversa” em textos de, no máximo, 140 toques –, seria facilmente diagnosticado como viciado.

Vício (do latim “vitium”, que significa “falha” ou “defeito”) é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Meu hábito repetitivo consiste em não me separar nunca de meu Iphone e, em intervalos que vão de minutos a não mais de uma hora, checar o que está acontecendo em minha rede no Twiitter. Alguém postou um texto interessante? Fui mencionado por alguém? Recebi alguma mensagem privada? Algum texto meu foi reencaminhado? tuitar, mention, DM (mensagens diretas) e RT (retuitar) são os nomes por trás das perguntas que acabo de fazer. Há muitos outros jargões nesse universo de linguagem e regras próprias que, no entanto, não diferem muito do que se vive no “mundo real”, na medida em que não são robôs se comunicando, mas pessoas que, mesmo disfarçadas atrás de nicks (pseudônimos) ou encorajadas a se superexpor protegidas pela interface virtual, continuam sujeitas aos mesmos padrões psicológicos, sociais e culturais que as demais pessoas que não se relacionam por meio dessa plataforma.

E o prejuizo que me causa é básico, visível e facilmente observável em qualquer tipo de vício: dependência. Não aconteceu de repente, o que talvez teria me ajudado mais rapidamente a percebê-la. Pelo contrário, foi se processando aos poucos, passo a passo, acompanhando, talvez, o lento crescimento da quantidade de pessoas que eu seguia e das que se juntavam à minha lista de seguidores.

Gente seguindo gente que segue gente que segue gente…

A despeito do sarcasmo ligeiro, do exercício às vezes entediante de proselitismo, da intolerância monológica, me afeiçoei a esse mundo. São pessoas reais que conheci ali, com suas verdades, suas mentiras, suas idiossincrasias, seus amores, suas dores. Não dou conta de tanta vida. É como se todas essas vozes continuassem em minha cabeça na hora em que vou dormir. Histórias que eu não consigo mais esquecer.

Uma amiga, talvez a mais viciada emTwitter que conheci, me sugeriu que diminuisse o número de pessoas que eu sigo. No tratamento de viciados, isso se chama redução de danos. Mas eu sinto que não seria capaz de apagar pessoas de minha timeline – o nome como chamamos a lista de tuites escritos por pessoas que escolhemos para seguir. Timeline para mim se tornou lifeline. E, na linha de minha vida, nunca fui capaz de apagar pessoas. Apenas distancio-me delas, o que não as faz, no entanto, desaparecer. “Sou uma parte de tudo aquilo que encontrei no meu caminho. “ (Alfred Tennyson) Impossível, portanto, desassociar-me de mim. No entanto, a vida não se reduz a minha timeline. Longe disso, a vida pulsa em todas as coisas e, quando vivo-a apenas em uma plataforma, sinto que me escapam outras formas de viver. Só que, quando olho para trás, em busca do caminho que percorri, já não vejo mais o caminho. Ele se apagou, como as milhares de palavras que tuitei e não salvei em lugar algum. Palavras ao vento.

Sei que é ilusório acreditar que controlo minha vida, mas nunca me entreguei a nenhuma forma de controle externo, desde que, claro, tomei consciência que ele se operava sobre mim. Por isso, tomei a decisão de afastar-me do Twitter. Afastar-se das centenas de pessoas que passaram a fazer parte de minha vida? Esta é, na verdade, a pergunta que me faço. E não encontro resposta que me conforte verdadeiramente. Fico com uma angústia no peito, mas também uma sensação de que estou abrindo de novo o espaço onde meu viver acontece de forma mais plena e prazerosa: o viver no presente. No Twitter, vive-se no tempo defasado, aprisionado pelo delay torturante entre o que escrevo e o que ouço. Com raras exceções, plataformas virtuais de comunicação não propiciam diálogos no tempo presente. E, quando a tecnologia consegue superar essa barreira, ainda assim não permite o contato físico, o cheiro, o gosto – essas sensações que fazem com que eu me sinta plenamente vivo, com o espírito completo por sua porção matéria. É dessa vida que sinto que meu vício me afasta e é em direção a ela que vou agora, cambaleante e com um nó no peito, mas também com um sorriso no rosto, como uma criança descobrindo os prazeres e a liberdade do caminhar.

5 comentários para “Como me tornei um viciado no Twitter”

  • Que você vai tirar de letra essa abstinência de Twitter, a gente tem certeza que vai.
    O que não sabemos dizer é como o Twitter e aquele monte de amigos que vc deixou lá vamos fazer com a nossa crise de abstinência de você… não vai ser fácil, não, viu?!

  • Giovana Gomes disse:

    Só espero que a amiga viciada não seja eu!

    Concordo com você, que algumas coisas (que se tornam vícios) tiram a nossa atenção daquela convivência pra valer, com encontros, abraços, gargalhadas, lágrimas, e tudo o que temos direito.

    Por isso pouco importa o Twitter, desde que de tempos em tempos eu consiga marcar um almoço com você. XD

  • Fábio Betti disse:

    Almoços são encontros presenciais exuberantes, na medida em que podemos, ao mesmo tempo, alimentar o corpo e o espírito. Pretendo reverter o tempo que eu investia em plataformas de comunicação digitais como o Twitter em mais encontros presenciais como, por exemplo, os nossos almoços.

  • Dagui disse:

    Vc faz falta…Mas respeito muito seu modo de pensar!
    Quando sentir que conseguiu superar isso,espero q volte…amigos virtuais tbm são amigos reais(palavras suas) e de tão longe mesmo sem ter contato fisico sentem o espiritual…
    Bom saber que ainda tem o blog e facebook…
    Foi maravilhoso conhecer e compartilhar meus dias contigo,é um amigo querido e especial!
    E pra terminar terei q confessar: Se a saudade apertar, terei que pegar a estrada até SP…rs
    Só posso desejar pra ti bons momentos nessa caminhada! =)
    Bjo.

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