Quando a Presença se faz presente

quinta-feira, 09 dezembro 2010, 17:36 | Tags: , , , , , | 2 comentários
Postado por Fábio Betti 

Eu entre Ximena Davila e Humberto Maturana, criadores da Biologia-CulturalNão tem jeito. Toda vez que mergulho numa semana de curso de Biologia-Cultural – olha eu aí entre meus professores Ximena Dávila e Humberto Maturana -, as reflexões sobre relacionamentos se aprofundam em perguntas que me levam ao que os filósofos chamam de essência. Desta vez, o tema que emergiu foi Presença, conceito muito bem descrito no best-seller “O Poder do Agora”, do Eckhart Tolle, e que o Otto Scharmer, do MIT, colocou em uma jornada evolutiva com sua “Teoria U”. Sinto a manifestação desse estado em diversas situações no meu viver, mas, especialmente, quando escrevo. Em algumas ocasiões, é como se as palavras simplesmente brotassem do papel ou se formassem sozinhas no teclado do computador, guiando meus dedos e minha atenção. Num desses momentos, justamente quando me perguntava como eu distinguia meus estados de Presença, a resposta surgiu no texto que publico aqui, o qual na falta de uma explicação mais científica, chamo de “psicografado”, pois parece ditads por alguém, embora eu me mantenha consciente e também participe de sua criação.

Sinto a Presença do outro quando o acolho como legítimo outro e percebo o mesmo comigo, que me sinto Presente quando me acolho como legítimo eu. E esse estado é muito mais sentido do que compreendido. Sinto-o em minha vida quando vivo o que vivo de maneira relaxada, sem pressão ou qualquer tipo de angústia, na confiança de que as coisas irão acontecer da melhor forma possível – para mim e para os outros -, sem que eu precise me esforçar em nada. Não há esforço na Presença, nem insegurança ou incerteza. Sinto que também não há escolhas, pois você simplesmente se entrega. É como se o que eu preciso para viver a cada momento me fosse sendo presenteado a cada momento, já estivesse disponível e emergisse como peças de um quebra-cabeças que se encaixam sozinhas.

Observo esse sentimento de presença especialmente no espaço relacional com o outro, que surge com seus mundos – mundos que eu não conheço, para os quais não estou preparado e que, ao surgirem, me levam suavemente a uma espécie de dança harmoniosa, uma dança que acontece sem ensaios prévios e cujos passos são criados a cada instante. Nessa dança, embora haja concretamente a possibilidade do outro não se fazer Presente – e, como em qualquer dança, mesmo o outro sendo imprescindível – é como se bastasse que eu estivesse Presente, sendo minha conexão com a Presença de tal maneira poderosa que ela irradia para todos os , lados. E se ela não é suficiente para que o outro também se conecte com sua própria Presença, ela é claramente suficiente para que o outro, de alguma forma, a reconheça em mim. E aí, como mágica, há uma espécie de desarme, de entrega, de desapego, onde o outro, qualquer que tenha sido sua intenção original em nosso encontro, entra num estado de respeito e, às vezes até, admiração do que ele está Presenciando, esmo que, naquele momento, ele não seja capaz de entender, nomear ou viver seu próprio estado de Presença.

Ele pode não saber o que está acontecendo, mas ele sabe que algo extraordinário está acontecendo, e ele sabe isso porque ele sente. Ele sente a força criadora do “Eu Sou”.

2 comentários para “Quando a Presença se faz presente”

  • Cada post me obriga a descer livros das estantes. Desta vez, quem “baixou” foi Jorge Adoum: “Se o ser humano permitir à PRESENÇA — EU SOU —, que está nele, que atue conscientemente e se lembrar de carregar a mente, o corpo, o lugar e toda atividade COM O AMOR de EU SOU, o próprio mundo se converterá em paraíso.”

  • Fábio Betti disse:

    Chris, depois que li seu comentário, me ocorreram tantos outros momentos onde observo claramente que me sinto Presente, que daria para escrever outro post, mas, só para que os leitores não achem que Presença é uma dádiva restrita a “iluminados”, resolvi colocar aqui mesmo uma rápida lista com mais exemplos desses momentos: o nascimento dos meus dois filhos; a primeira vez que avistei Machu Pichu na chegada à Porta do Sol pela trilha inca; inúmeras vezes em que participei de processos de criação de campanhas publicitárias, com as ideias originais e/ou exatas para a necessidade do cliente simplesmente saltando na frente de meus olhos; nos workshops que conduzo em comunicação face a face, onde percebo a necessidade de algum participante e me vejo desapegando de meu ego (crenças, certezas, etc) para ajudá-lo; observando o por do sol no mar, na companhia de meu irmão, em San Diego; entre muitas outras.

    O que há de comum entre elas? Um bem estar incrível e uma sensação indescritível de confiança e tranquilidade. E creio que isso seja o mais importante: para identificar se estamos, de fato, Presentes em uma determinada situação, o segredo é se conectar com o próprio corpo e sentir se ele está em paz, calmo, seguro. Para isso, o negócio é respirar fundo, se possível, fechar os olhos, perceber as batidas do coração, o percurso que o ar faz quando o inspiramos, passando pela traquéia, pelos pulmões, observar se há qualquer desconforto no estômago, em alguma outra parte do corpo, alguma dor muscular, alguma tensão.

    No estado de Presença, que, em primeira e última instância, é uma conexão com o que há de divino em nós e no outro, o corpo funciona em perfeito equilíbrio, na medida em que nosso corpo é o instrumento onde a Presença se manifesta. Em muitas tradições, especialmente, tradições orientais, considera-se que Deus é o espírito e o ser humano é sua manifestação. No livro “Conversando com Deus”, há uma passagem interessante, onde se coloca que Deus resolveu criar o ser humano para que Ele pudesse ampliar a consciencia sobre Si mesmo por meio da experiência. Em outras palavras, o ser humano seria o espírito manifesto ou a Presença de Deus.

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