E se não houvesse amanhã?*

quinta-feira, 06 janeiro 2011, 17:09 | Tags: , , , , , , , , , , | 3 comentários
Postado por Fábio Betti 

Vivemos na certeza de que haverá um amanhã. E, mesmo que isso segure os mais exaltados, que talvez saíssem por aí fazendo bobagens caso soubessem que tudo deixaria de existir no dia seguinte, a maioria de nós faz o pior possível a partir dessa certeza ilusória: adia o seu viver.

Amanhã é o dia de começar o regime. Amanhã, a declaração de amor. Amanhã, a solução do conflito. Amanhã, a discussão de relação. Amanhã, o início de algo importante. Amanhã. Amanhã. Amanhã.

Amanhã é um lugar que só existe no calendário e em nossas agendas. Nossa vida não existe no amanhã, o que já deveria ser suficiente para abrirmos nossos olhos e pararmos com essa insistência tola em viver onde não é possível.

Enquanto nos ocupamos com essa ilusão, a vida passa. Passam as oportunidades, passam os amores, passa o tempo. E tudo o que passa nunca volta. O máximo que o passado consegue ser é uma memória – memória, muitas vezes, ardida, um fogo incômodo que nada parece aplacar e, enquanto queima, consome o tempo mais precioso e único que, de fato, se pode ter, o tempo presente.

A vida só se vive no presente. As escolhas só se fazem no presente. Não há como mudar o passado. E a única forma de alterar o futuro acontece no presente.

Tudo isso é tão ridicularmente lógico, não é? Parece até que estou lhe vendo balançar a cabeça em aprovação. Mas, então, por que é que você continua se apegando às escolhas que fez no passado para justificar o que você vive ou deixa de viver no presente? Por que é que você simplesmente não faz novas escolhas? Por é que você continua deixando decisões importantes para amanhã? Por que é que você simplesmente não escolhe viver no bem estar hoje?

Se você resolver se perguntar quem lhe impede de fazer isso agora, pode se surpreender com a resposta. Se você assumir uma atitude de total honestidade para consigo mesmo ou mesma, vai descobrir que ninguém, absolutamente ninguém tem o poder de lhe impedir de fazer suas escolhas, quaisquer que sejam elas. Isso significa também que ninguém, absolutamente ninguém pode ser responsabilizado por qualquer coisa que aconteça em sua vida.

Quer mudar de emprego? Mude.
Quer transformar seu relacionamento? Transforme.
Quer trocar de sexo? Troque.
Quer começar uma dieta? Comece.
Quer abrir seu coração para um companheiro ou uma companheira? Abra.
Quer viajar pelo mundo? Faça as malas.

Acredite! Se há alguém capaz de bloquear suas escolhas, esse alguém é você. A boa notícia é que esse você não é tudo o que você é. Uma parte de você se identifica com o passado a ponto de insistir em permanecer vivendo nele. Pode também ser que outra parte de você tente transferir o seu viver para o futuro, esse lugar onde nada pesa de verdade, espaço feito da mesma matéria das nuvens e dos sonhos. Estes vocês podem ser parte de você. Mas aquilo que você é de verdade não é nem o seu passado, nem o seu futuro. Você é o presente, o presente tempo e o presente dádiva.

Acolha e agradeça o seu passado, mas não se apegue a ele. O seu passado lhe trouxe vivo ou viva até aqui? Ótimo! Então, trate de aproveitar esse presente que você mesmo ou mesma se deu. Ele é um presente único, só seu e que, portanto, só você é capaz de cuidar. Aliás, você já se deu conta de que o fim da vida é a morte? Então pare de se preocupar com o resultado e trate de cuidar do processo!

*Texto escrito por minha mão direita e inúmeros olhos, bocas, corações e mentes PRESENTES na sala de espera do Hospital do Câncer em São Paulo – acredite! Um dos lugares mais repletos de vida em que já estive até o momento.

3 comentários para “E se não houvesse amanhã?*”

  • Dagui disse:

    Um dos lugares mais repletos de vida em que já estive até o momento…
    É exatamente isso que sinto…
    O texto é ótimo,parabéns!

  • Fabio Betti disse:

    Pois é, Dagui, onde aparentemente a morte está mais próxima, a vida mais parece vicejar.

  • Edson disse:

    Parabéns novamente pelo texto, Fabio. Só para complementar: quando nós decidimos agir no presente (que amanha será passado), estaremos construindo uma nova realidade, “uma nova vida”.

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