Volta e meia, algum amigo me pede conselhos. O cardápio é variado e, em alguns casos, surpreendente. Vai de conflitos no trabalho, dúvidas amorosas, crises, mudanças a ideias descritas como revolucionárias. Acho que herdei isso da minha mãe. Não sei se é talento ou tormento. Porque quando me pedem para falar o que penso, eu falo o que penso. E, de repente, vejo no outro uma expressão de desconforto de quem não está gostando nada do que ouve.
Costumo repetir com certa frequência o velho dito popular: se conselho fosse bom, não se dava, vendia-se. Parece que só eu acredito nele, porque todo mundo sempre tem um conselho para dar para alguém. E quem não dá conselhos, quer receber conselhos. Mas como sou fiel às minhas crenças, enfrento a árdua tarefa evitando aconselhar a quem quer que seja. De modo algum, nego a ajuda. Só que, ao invés de dizer ao outro o que ele deve fazer, digo o que faria – ou, até, o que fiz – a partir de minha própria experiência com a questão apresentada. Tanto é que recentemente pediram minha opinião sobre o divórcio e me esquivei solenemente: como posso falar de algo que nunca experimentei? Aliás, não falo em teoria, falo em prática, a minha prática. E como tenho uma vida intensa, as experiências acabam sendo fartas e diversas – talvez resida aí a razão de tanta gente valorizar minhas opiniões.
Quando falo a partir de mim, percebo uma escuta mais aberta. Ao apontar o dedo para mim e não para o outro, convido-o a baixar a guarda: é só uma opinião, a minha opinião, não um julgamento. É a opinião a partir de um ponto de vista que o outro é incapaz de ter. Para quem deseja ampliar a visão sobre alguma coisa, ouvir é um recurso poderoso, transformador mesmo, na medida em que permite conhecer a visão de mundo que o outro tem. Quem sabe ouvir, sai do diálogo com, pelo menos, três visões: a sua, a do outro e uma terceira, que pode surgir a partir da alquimia entre as duas primeiras. O Frans Johansson, autor do livro “O Efeito Médici”, conta que, para encarar o desafio de projetar um prédio comercial que funcionasse com baixo consumo de energia, um arquiteto foi atrás de um especialista em cupins, pois descobriu que os cupinzeiros tinham uma estrutura que funcionava como um isolante térmico. O resultado foi um prédio que se mantinha à temperatura constante de 20 e poucos graus, sem necessidade de ar condicionado.
Invariavelmente, também sou chamado para dar minha opinião por gente que não quer me ouvir. Falo o que penso, e o outro tenta me convencer do contrário. Sei bem o que é isso, pois, muitas vezes, me vejo na posição desse outro. Quando observo a mim mesmo neste estado de surdez involuntária, percebo que estou tão apaixonado pelas minhas ideias que não consigo me desapegar delas. Assim, ao invés de me abrir para as desconhecidas e instigantes ideias do outro, uso nosso precioso tempo para tentar mostrar o quão belas e coerentes são as minhas. Cega, egoísta, possessiva, imediatista, desconfiada, insegura, exclusivista, a paixão realmente não tem nada a ver com o diálogo.
Então….pois é… Eu, particularmente, acredito que quando as pessoas em geral nos pedem opiniões, elas necessitam, na realidade, de um espelho. Muitas querem verdadeiramente ouvir aquilo que ‘querem ‘ ouvir. Até mesmo quando pagam para ouvir uma outra opinião (como terapias e afins, embora não seja bem essa a idéia de uma análise), se incomodam deveras se a definição apresentada para aquela questão não é a esperada.
Concordo inteiramente com vc. Opiniões/conselhos (?) só podem ter alguma validade quando são oriundas de experiência própria. Mas, sendo assim, como as experiências são pessoais e instransferíveis, passa a ser um relato e não mais uma opinião.
Beijo
Tem horas que sinto que me falta um conhecimento teórico mais profundo para poder falar sobre relacionamentos. Mas eis que surgem comentários como esse, ampliando a visão sobre aquilo que, muitas vezes, eu trouxe de uma forma muito rasa e particular. Espaço para troca de pontos de vista e experiências pessoais, olhares diferentes, sem que precisem ser opostos. Esta foi a proposta deste blog, quando ele foi primeiramente pensado 3 anos atrás. Fico feliz de saber que ela continua viva e produzindo reflexões importantes sobre relacionamentos de toda a natureza. Obrigado, Clarissa, por fazer parte desta história – aliás, por fazer parte de outras histórias que aconteceram muito antes desta.