Discutindo a relação com a traição

quarta-feira, 27 abril 2011, 23:36 | Tags: , , , | 16 comentários
Postado por Fábio Betti 

As pessoas enganam por causa de traições. As pessoas mentem. Pessoas atacam, agridem, matam por causa de traições. Em defesa da honra, desonra-se a própria vida e o que ela tem de mais valioso: o direito universal à liberdade.

Observo que diversos comentários deixados por leitores sobre os textos mais populares deste blog têm apresentado um padrão comum. Por exemplo, no post “Olhar para outras mulheres pode ser considerado um ato de traição?”, a grande maioria das leitoras se mostra indignada com o fato de homens se sentirem no direito de admirar outras mulheres na frente de suas companheiras. Note-se que, em nenhum momento, o texto sugere que esse é um direito exclusivo dos homens. Quando o assunto é “10 coisas que fazem um homem broxar”, as questões mais frequentes giram em torno de “será que ele não me ama mais?” a “será que ele tem outra mulher?”.

As traições mais típicas são as do tipo “contato físico”. Sexo com penetração parece, no entanto, ser a única sobre a qual não se discute. É traição e pronto. Porque sexo oral entrou para o rol das controvérsias desde que o ex-presidente americano Bill Clinton assim justificou à esposa seu ato de “não-traição” com a famosa estagiária da Casa Branca. Se a boca naquele lugar não é sexo, beijo na boca seria menos ainda. Agora, alguns abraços podem ser tão profundos e penetrantes quanto o melhor dos sexos de verdade.

Sexo virtual não é sexo de verdade. Senão não chamaria sexo virtual. E, mesmo assim, conheço muita gente que, para efeito de traição, considera-o tão importante quanto o sexo com contato físico, ou melhor, o sexo com a troca de contato entre os dois – ou mais! – envolvidos. Porque não há dúvida de que sexo virtual tem contato físico – pode ser solitário, mas com contato físico. E o que dizer das paixões platônicas, mais comuns de acontecerem na adolescência, mas que também acometem adultos já comprometidos? Não se trai igualmente em pensamento, nas fantasias que tecemos com desconhecidos, com amores passados ou proibidos ou até com mitos construídos pela mídia?

Pergunto-me por que tanta polêmica frente a uma questão que sequer consegue ser racionalizada em termos de senso comum.

“Traição, como uma forma de decepção ou repúdio da prévia suposição, é o rompimento ou violação da presunção do contrato social que produz conflitos morais e psicológicos entre os relacionamentos individuais, entre organizações ou entre indivíduos e organizações.”

É assim, dessa forma confusa e carregada de jargões jurídicos, que o maior dicionário social do mundo, o Wikipedia, define traição. O juridiquês não é por acaso. Mesmo sem uma definição clara, traição é crime que poucos ousam contestar. E, no entanto, o que está por trás da ideia de traição é, isto sim, o maior dos crimes. Primeiro, pressupõe-se que as pessoas não podem sentir desejo, atração ou qualquer outro sinal de afetividade que coloque em risco a relação com outra pessoa, estabelecida por algum tipo de compromisso formal que, sendo pré-existente a esse outro sentimento, tem prioridade sobre ele.

“Compromisso é a forma, pública ou não, de se vincular ou assumir uma obrigação com alguém, com algum objetivo ou algo.” Compromisso é, portanto, outro termo mais apropriado aos livros de Direito. A palavra deriva de “promessa”, ou seja, “com promessa”, pressupondo que quem assume compromisso promete algo a alguém, no caso do relacionamento afetivo, sua lealdade.

Lealdade é sinônimo de fidelidade, “atributo ou a qualidade de quem ou do que é fiel, para significar quem ou o que conserva, mantém ou preserva suas características originais”. Ora, quem se julga capaz de conservar-se, preservando suas características originais num mundo comprovadamente inconstante?

Pessoas são diferentes de coisas. Estas sim podem pertencer a outras pessoas e serem por elas controladas e, se assim for o desejo, conservadas intactas. Mas coisas, diferentemente de pessoas, não têm sentimentos. Pessoas sentem o que sentem e não o que outros querem que elas sintam. Se nem elas são capazes de controlar seus próprios sentimentos, por que imaginar que essas outras o seriam?

16 comentários para “Discutindo a relação com a traição”

  • Clarissa disse:

    Confiança, lealdade, compromisso (com promessa), fidelidade. Desejo, afetividade. Traição, decepção, repúdio, sexo. Obrigação. Um olhar do outro, um olhar para outro. Definições para quase tudo. Como se definir sentimentos? Subjetividades? Como se definir o que vai no coração do outro?
    O que menos percebo aí é a existência do amor. O amor das relações, o amor do ser amado e o desejo de amar. Nas declarações das pessoas sobre ‘traição’ sinto o desejo delas em possuir o que não é matéria, como vc diz. Como se sentem ultrajadas pelo sentimento não controlado do outro. Como se perturbam em não conseguir definir traição. De desejos? Do sexo? Ou do amor… O que se traí? Cada qual com sua definição, invariavelmente fantasiosa, do que o outro lhe deve.
    Acho que tem toda a razão, Fábio. Mundo inconstante, cheio de cores e amores variáveis. Somos humanos, feitos de amor, dor, sexo…exigir do outro aquilo que nem mesmo nós sabemos como obter ou entender ou definir é um risco. Para qualquer relação.
    Beijo

  • Fabio Betti disse:

    Clarissa, mais uma vez, super obrigado pelas reflexões e indagações que você traz aqui. Percebo que, quanto mais respostas sobre relacionamentos eu descubro, mais perguntas eu tenho. Beijos

  • Deb. disse:

    Olha, eu – e sei que muitas outras pessoas também – faço uma diferenciação importante entre fidelidade e lealdade. Eu acho que um homem pode me ser leal sem ser fiel.

    Mas para começar, acho que em geral as pessoas não são monogâmicas por natureza. São por convenção, criação, padrões morais, religiosos, culturais etc etc. (Já escrevi sobre isso no blog… polêmica total…) Admito que se possa desejar alguém mesmo estando com uma pessoa a quem se ama. Sexo e amor podem ser duas coisas muito distintas. ( Mas claro que a junção das duas é a perfeição.)

    A única coisa da qual eu não abro mão é da lealdade. Ser infiel é simplesmente transar com outra pessoa. Desleal é ficar com outra mulher de alguma forma que me sacaneie. Como por não me contar, se tivéssemos esse acordo. Ou transar com alguém que ele sabe que me perturbaria em especial (tipo minha melhor amiga ou pior inimiga.) Ou ser desrespeitoso no comportamento comigo, como cantar alguém na minha cara. Deslealdades.

    E sim, já tive relacionamentos com esse tipo de contrato. Foi bom. Não porque fosse uma putaria desenfreada. Não foi. Mas foi mais honesto, entende?

    Beijos,
    Deb.

  • Fabio Betti disse:

    Acho que entendo. E obrigado por ajudar a expandir um pouco mais a visão sobre esse tema sempre tão polêmico e tão carregamento de julgamentos morais. Beijos

  • Andreia disse:

    Fábio, concordo contigo em todos os aspectos descritos, porém ressalto que só quem viveu uma traição saberia descrever o sentimento amargo e doloroso.
    Considero uma traição, independente de como for, um meio de tortura, crueldade e sem dúvida de falta de comprometimento e amor ao companheiro. É mais nobre sair da relação do que enganar. A pessoa que se submete a isto não pensa na ferida que abriu no outro. E que infelizmente será uma cicatriz jamais esquecida. A parte que “aproveitou”o momento não tem conhecimento e discernimento de seus atos, pois se assim soubesse, jamais cometeria tamanha crueldade.
    Traição é traição!

  • Fabio Betti disse:

    Andreia, quem já acompanha meus textos há algum tempo, sabe que só escrevo a partir de mim mesmo, ou seja, a partir de reflexões sobre o que vivo, na medida em que não acredito ser possível “escrever em teoria” – pelo menos, não é a proposta deste blog. Portanto, o que você traz é absolutamente enriquecedor para nossa discussão sobre a traição. Pelo que entendi, você também fala a partir do que viveu ou vive – assim te escutei. Gostaria de honrar seus sentimentos, agradecendo sua generosidade em compartilhá-los, incluindo sua percepção como, sem dúvida alguma, válida na reflexão que apenas iniciei quando trouxe minha visão pessoal sobre a traição. Abraços

  • Andreia disse:

    Adoro seus textos e sempre os leio. Sim, vivi uma história linda de casamento e de uma grande traição. Porém serviu, como tudo na vida, como um grande aprendizado e muita reflexão. Escrevo textos em jornais e quando vivenciamos algo, conseguimos “tocar”o leitor.
    Traição é um tema a ser descrito com tamanha sutileza, pois a parte traída será sempre a mais prejudicada. E pode ter certeza que a única a sofrer com as consequências. Considero quem se submete a isto uma pessoa inescrepulosa, pois não é digna de conseguir algo sem destruir. As novelas de hoje retratam muito bem isto. Apesar de não acompanhar, por trabalhar em jornal, leio. Nossa sociedade está literalmente “dente por dente”, olho por olho”. Se pode trazer algum benefício, esquece de seus princípios e “puxa o tapete”. Por isso ressaltamos, não só a traiição marital, mas qualquer traição. Um abraço, Andréia.

  • Fabio Betti disse:

    Andreia, decidi criar este blog junto com uma amiga, com o objetivo de trazermos a visão feminina e a visão masculina para temas comuns. Minha amiga acabou saindo do projeto e fiquei orfão da visão feminina. Ledo engano. Como a maioria das pessoas que passa por aqui é de mulheres, muitas deixam suas histórias, ajudando a complementar minha limitada visão sobre o mundo – limitada, seja porque falo a partir de uma visão mais masculina do que feminina, seja porque falo a partir das experiências que tenho e da bagagem cultural que carrego. Portanto, sem qualquer demagogia, quero lhe agradecer de novo por aceitar o convite e trazer sua visão para dentro do blog. Espero que a história que você compartilhou provoque outras pessoas a fazerem o mesmo e que a gente possa dialogar a partir de nossas visões diferentes de mundo, não com o intuito de nos fecharmos em uma limitada visão única, mas justamente para abrimos nossa cabeça para as muitas visões que cada história acrescenta a essa senhora de múltiplas caras chamada verdade. Abraços

  • JR disse:

    Meoooo
    Muito bom o seu comentário, fico muito feliz de saber que existem pessoas que como eu conseguem diferenciar lealdade de fidelidade e sexo de amor.
    Quando olhamos qualquer “caso” extra conjugal a partir desta perspectiva, mudanmos também o entendimento do que é traição.
    Muuuuuuito bacana

    Vlewwww

    JR

  • Marcia disse:

    Acho absurdo

  • Brigitte disse:

    É como vc disse trair é esquecer de avisar que o relacionamento se baseia em lealdade e não em fidelidade, isto é traição… E como dói não,? Perder a cumplicidade, a lealdade…

  • Fabio Betti disse:

    Brigotte, não foi isso o que eu disse ou pretendi dizer com o meu texto, mas aqui cada um entende o que foi escrito como quer, ou seja, a partir de sua propria visao de mundo. Agradeço, portanto, sua manifestação.

  • Bruna Cristina disse:

    Acho que dentro de um relacionamento traição é tudo aquilo que se faz sabendo que o outro será feridor, aquilo que descumpre acordos feito entre as duas partes.

  • Luiz disse:

    Sou casado a 15 anos e sempre gostei (desde a época de solteiro) de sexo oral. A pedido, minha esposa me fez sexo oral algumas vezes mas detestou. Isso me deixou arrasado, pois foi a primeira mulher que me desprezou dessa forma. Eu gosto muito dela, mas quando estamos fazendo sexo tenho vontade de me satisfazer por completo com ela mas não consigo. Com o passar dos anos essa sensação de “nojo” que ela tem foi esfriando nosso relacionamento sexual. Uma vez dei carona para uma amiga do trabalho e no final rolou um clima e ela acabou me fazendo sexo oral dentro do carro. No momento foi a coisa mais maravilhosa do mundo, sensações fortes que eu já até havia me esquecido. Uma delicia. Mas depois bateu um sentimento de culpa. Não quero uma amante, queria que minha esposa pudesse ser essa mulher. Mas o tempo esta passando e minha amiga esta cada vez mais amiga.

  • MULHER disse:

    È

  • MULHER disse:

    è estranho comentar algo que ja foi escrito a tanto tempo por que na realidade alguns pontos da sua visão sobre o assunto ja podem bem ter mudado, mas gostaria de deixar minha impressão sobre o assunto. Traição pra mim é realmente a quebra de lealdade tanto entre marido e mulher ou com filhos e amigos, pessoas que fazem parte do seu ciclo de confiança, hoje em dia eu separo bem o amor do sexo por assim dizer, ja sou casada a muitos anos, ja sofri traição do meu amado, o que gerou sem sombra de duvida muita dor e a separação por consequencia, e nele o remorso por perder uma amor por conta da enganação. Nossa sociedade que privilegia tanto o casamento não cria os homens e mulheres da mesma forma, cria os homens para buscar prazer e mulheres para gerar filhos, sendo assim deveria ser “aceitavel” o homem dar uma escapadinha quando a sua mulher não corresponde seus imperos, vivemos em uma sociedade um tanto falsa moralista. Mas e se no caso em vez do homem enganar a sua esposa ele tentasse levar ela junto nessa viagem erótica que seria um menage mmh (2 mulheres e 1 homem) ou hhm (2 homens e 1 mulher) ou mesmo uma troca de casais. Isso seria uma relação erótica muito proveitosa para todos que concentirem, mas é claro isso é putaria, desculpe o termo vulgar, isso não pode mas enganar a mulher tudo bem, não somos criados para sermos perfeitos, isso provavelmente não seria o relacionamento perfeito pra muita gente mas sinceramente ta funcionando muito bem pra mim, e eu experimento a liberdade de ter meu marido comigo e outro casal sem remorso sem culpa sem enganar ninguem. Não espero que todos entendam, não quero agradar ninguem, até mais, fiquem bem

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