Odeio generalizações, incluindo as que eu mesmo faço

quarta-feira, 04 maio 2011, 09:17 | Tags: , , , | Nenhum comentário
Postado por Fábio Betti 

Parece que contraí uma estranha intolerância às generalizações. Basta ouvir um “as mulheres são assim”, “ a classe média não tem se comportado direito” ou “os políticos são todos iguais”, para sentir uma arrepio pelo corpo todo, seguido de um profundo desconforto. Pergunto-me como faço para livrar-me desse mal, que não apenas atinge o que os outros dizem, mas a mim mesmo.

Me peguei outro dia brigando com um amigo, que insistia em falar de homens e mulheres na terceira pessoa do plural. Quase que saímos no braço – ele com suas generalizações e eu cobrando uma atitude mais pessoal. “Fale na primeira pessoa!” Meus ataques cessaram quando meu amigo finalmente revelou que se sentia atacado. Choquei-me com essa constatação e coloquei o rabo entre as pernas. Em outro momento, fui eu que recorri a generalizações e meu amigo, implacável: “está vendo, você também generaliza!” Fiquei duplamente mortificado: fui pêgo em contradição e, o que me pareceu ainda mais doloroso, odiei-me por perceber a mim mesmo generalizando.

Intolerância múltipla? Assumir isso, além de incorreto, seria em si uma generalização. Diria que a intolerância é específica. Está circunscrita ao uso da terceira pessoa do plural para fins exclusivamente pessoais. Basta que alguém empregue a generalização como recurso para defender suas próprias ideias e já me doem os ouvidos. É como se o fato de uma pessoa disfarçar sua própria opinião apelando para o conceito de maioria fosse algo tão escandalosamente descarado, que eu já não conseguisse mais manter-me dentro da etiqueta da hipocrisia social.

Se até Gilberto Gil, que cantava “gente estúpida, gente hipócrita”, revelou, já como ministro, ter descoberto na hipocrisia uma “ferramenta de civilidade”, quem sou eu para afirmar o contrário? O problema é justamente esse: se eu afirmasse, faria como Gil, “desafirmaria”. A questão é que, longe de ser uma afirmação, é um gesto involuntário. Não é pensado, é sentido – aliás, como qualquer doença. “O que você sente?” indaga o médico. E eu: “será que é grave, doutor?”

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