Discutindo a relação com o machismo e o feminismo

sábado, 16 julho 2011, 09:02 | Tags: , , | Nenhum comentário
Postado por Fábio Betti 

Não sabia que haviam criado o dia internacional do homem. Só me dei conta no dia seguinte, quando acompanhei nas redes sociais uma série de ataques pessoais entre homens e mulheres, o que me faz crer que esse dia deve ter sido criado para nos lembrar que machismo e feminismo não são opostos, mas se equivalem como uma cultura que discrimina e invalida o outro.

Falem o que for, mas qualquer teoria que procura explicar por que um determinado grupo de pessoas é superior ao outro nega o amar. É assim em todas as ditaduras, onde um grupo dominante se coloca acima de um grupo dominado. Foi assim no nazismo. É assim no racismo. E continua sendo assim sempre que homens e mulheres se separam uns dos outros nas ditaduras dos tipos machista e feminista. Quando passam a debater quem é melhor, agem como qualquer regime totalitário. De-batem-se, agridem-se, ofendem-se, indo exatamente na direção oposta do que parecem desejar: serem escutados, vistos, respeitados, amados.

Machismo e feminismo, como culturas discriminatórias, sustentam-se em generalizações, essa que, na minha forma de ver, é a pior das ilusões, posto que ignora a singularidade biológico-cultural de cada um, nos fazendo agir num mundo de imagens fictícias, tal qual as sombras da caverna de Platão. E, no entanto, acreditamos nessas imagens. E agimos de acordo com o que acreditamos. E dizemos ao outro que ele pertence a uma determinada classe de seres vivos – homens ou mulheres – que têm características comuns. Homem é assim, mulher é assado. Repetimos isso tantas vezes que, de fato, passamos a agir como se fosse verdade.

Quando ignoramos a singularidade do outro, não o validamos como um ser vivo. Quando não o aceitamos em suas configurações de sentimentos íntimos, emoções e fazeres, negamos-lhe o amar. Veja que não falo do amor, o sentimento, mas do amar, a emoção. Classifico amor como algo que sentimos, e amar uma emoção que experimentamos na relação com o outro. Amo quando aceito o outro como legítimo, quando lhe vejo, lhe escuto, lhe respeito. Posso amar o outro, mesmo que ele seja completamente diferente de mim – e, acredite, ele de fato é diferente.

O amar pode criar um espaço de convivência, onde nos sintamos no bem-estar fazendo algo juntos. Isso acontece com os amigos e com os amantes. Ou o amar pode revelar que vivemos em culturas tão diferentes, que não encontramos um espaço onde desejamos conviver – e, mesmo assim, ainda é amar.

Antes de sermos seres humanos, somos seres vivos. E, como seres vivos, operamos dentro de um sistema chamado autopoiesis, um mecanismo presente em todos os seres vivos desde sua origem há 4 bilhões de anos e que demonstra que todo ser vivo se produz a si mesmo, orientando-se para sua auto-perpetuação numa jornada onde o ser e o meio onde ele vive mudam juntos. Esse acoplamento ser-meio existe enquanto funciona para o processo de autopoiesis, ou seja, quando oferece as condições para que o ser vivo continue vivendo. Quando o meio não oferece mais condições, o ser se adapta a outro meio ou morre.

Amo o outro quando o vejo, o escuto, o respeito como legítimo outro. Essa forma de entender o amar é libertadora, porque posso, realmente, amar a todas as pessoas, dando-lhes espaço para serem o que são, seres humanos que nascem na confiança de serem amados. E, ao mesmo tempo, não me obrigo a viver no amor romântico ou em qualquer outro amor que imponha um conviver com o outro em um mundo que não me causa bem-estar.

“Odeio todas as suas ideias, mas lutarei até a morte para que você tenha o direito de expressá-las”, dizia Voltaire. E eu digo que, enquanto homens e mulheres escolherem viver a partir de uma cultura discriminatória, estarão perdendo uma oportunidade de ouro de aprenderem com suas diferenças na construção conjunta desse espaço amoroso, onde, vez ou outra, nos encontramos com pessoas com quem verdadeiramente nos sentimos no bem estar a ponto de escolhermos conviver.

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