Só posso mesmo ser um machista

quinta-feira, 11 agosto 2011, 20:21 | Tags: , , , , | 4 comentários
Postado por Fábio Betti 


Uma leitora aparentemente indignada com algo que escrevi mandou um “vc e um machista”. Disparou essas quatro palavras, assim, sem qualquer pontuação, muito menos um ponto de interrogação que colocasse a questão no campo da dúvida. Tive ganas de responder-lhe o comentário no mesmo nível – curto e direto -, mas vi em sua honesta indignação uma oportunidade para refletir de maneira mais ampla, perguntando-me se o que escrevo aqui nesse blog é ou não revelador de um comportamento machista.

Em “Olhar para as mulheres pode ser considerado um ato de traição?”, o fatídico texto que motivou a observação da leitora e recebeu 2.955 visitas até o momento, falo sobre o ato masculino de olhar para outras mulheres na frente de sua companheira. Resolvi então partir da releitura desse texto escrito em setembro de 2008 para descobrir se, afinal, sou ou não machista.

Se confessar que homens não resistem a olhar para outras mulheres, mesmo que seja uma fugaz espiadela, é coisa de machista, sou então machista.

Se acreditar que olhar para outras mulheres não é um ato de traição for um pensamento machista, paciência, sou machista.

Se recomendar para as mulheres que é melhor que os homens possam dar suas olhadas na sua frente ao invés de os incentivarem a fazer isso por trás for um conselho machista, podem me condenar, sou machista.

Se aceitar que as mulheres têm os mesmos direitos de olhar para outros homens for coisa de machista, mais um indício de que sou machista.

E não satisfeito com as evidências que o texto comentado pela leitora aponta para meu comportamento machista, resolvi fazer o mesmo exercício com o texto até então mais popular deste blog, “10 coisas que fazem um homem broxar”, visitado 17.842 vezes.

Se associar a higiene feminina a algo broxante for uma atitude machista, não há dúvida, sou machista.

Se reputar à impotência masculina fatores como cansaço, estresse, depressão, ansiedade e medo de falhar for considerado coisa de machista, está decretado, sou um machista convicto e a leitora está coberta de razão.

Atrás de evidências ainda mais irrefutáveis, revisitei “O que os homens querem das mulheres”, texto de setembro de 2010 e que recebeu até hoje 2.961 visitas. Nesse texto, escrito em setembro de 2010 a partir de um livro que eu havia lido do terapeuta sexual David Deida, coloco na base das necessidades masculinas o sexo e no topo o sentido de realização, ou seja, um raciocínio indubitavelmente machista.

Se dizer publicamente que ninguém é de propriedade de ninguém, que machismo e feminismo são apenas dois lados da mesma moeda, que a competição não é mais saudável para o desenvolvimento humano e planetário, que generalizações costumam ser destrutivas, enfim, se estas e todas as outras reflexões que tenho feito nos últimos tempos fizerem parte do compêndio de pensamentos machistas, só posso mesmo ser um machista incurável, que merece ser apedrejado em praça pública, o que me faz crer que o nome deste blog deveria mudar para Discutindo a Relação com um Machista. Agora, se, de repente, uma, pelo menos uma, das ideias que eu trouxe aqui de volta não soar como algo que um machista diria ou faria, por favor, da próxima vez coloque pelo menos um ponto de interrogação no final da frase, claro, se não for pedir muito.

4 comentários para “Só posso mesmo ser um machista”

  • patricia disse:

    Se você fosse machista mesmo, não estaria discutindo a relação 🙂 há!

  • Zero_Anjo disse:

    Acho que ele é, na verdade, uma mulher machista então 🙂

  • Zero_Anjo disse:

    Acho que se a sua leitora não deu nenhuma base para conversa, então não dá pra levar adiante qualquer dialogo. Se te importar, ao menos este leitor aqui não te acha machista. Digo também que não é um feminista, acho que humanista seria mais a sua cara. Abraços!

  • Fábio Betti disse:

    Opa, muito obrigado, Anjo!

Comentário

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