Carrossel de emoções

domingo, 14 agosto 2011, 22:11 | Tags: , , , , | Nenhum comentário
Postado por Fábio Betti 

Não costumo ficar ruminando muito um texto. Assim que uma ideia surge, trato logo de cavar um tempinho para deixar que ela se desenrole em palavras. Com este texto foi diferente. Seu germe apareceu num carrossel de emoções e ficou girando, girando… Dificuldade em lidar com emoções. Eis aí algo que nos une, pelo menos, a maioria de nós. E eu, particularmente, tenho uma especial dificuldade em lidar com emoções contraditórias. Como posso estar alegre e triste ao mesmo tempo? Pergunto-me isso toda vez que coisas que me acontecem me arremessam para vários lados ao mesmo tempo. Como num cabo de guerra, sinto-me disputado por dois lados que parecem não desejar nenhum acordo: ou alegria ou tristeza, que vença o mais forte!

Ando pensando na morte do meu sogro. Passaram-se algumas poucas semanas, mas é como se ele já tivesse partido há muito tempo. Não, não é o tempo que correu mais rápido do que o relógio, é o sentimento. É o adeus afogado no peito que se aquietou, a saudade que foi não sei para onde. Será que volta?

Lembro da morte de minha mãe. Essa morte já faz bastante tempo que se deu. Mais de 15 anos. Convivo com a ausência da mãe há todo esse tempo. Ela não foi ao meu casamento, não viu meus filhos nascerem, não conheceu minha chácara em Ibiúna. E, no entanto, em algumas ocasiões, essa morte antiga ressuscita na forma de saudade, e aí é como se ela tivesse morrido de novo nesse novo instante, fazendo eu sentir de novo uma falta danada da mãe que partiu.

As asas da saudade ainda não se abateram sobre a morte de meu sogro. Pode ser que não a revivi porque o fato ainda é recente. Ou talvez seja porque, junto com a dor da perda, também havia muitos motivos para estar feliz. Estávamos curtindo alguns dias de férias em Nova York e, em seguida, íamos para a Jamaica participar do torneio pan-americano de badminton – momento familiar de muita alegria e, ao mesmo tempo, pesar. Já experimentei esse conflito algumas vezes. A que mais me marcou foi justamente o da morte de minha mãe, que acabou sendo revivida em meu casamento, dois meses depois – um momento de profunda alegria junto com muita tristeza. Sorriso e lágrimas se misturando num carrossel de emoções que sempre me pareceram tão antagônicas, mas que, de repente, nessas situações onde apareceram juntas, senti-as, mais do que irmãs, como almas gêmeas, complementos de uma mesma massa, parte da mesma história vista a partir de lentes diferentes. Meu sogro morreu, estou triste. Estou na Jamaica com minha família cercado de bons amigos, estou feliz.

A vida parece ser assim mesmo. Não há bem ou mal, melhor ou pior que se distinguam de fato. Está tudo sempre junto e misturado. Somos nós que inventamos de criar formas de distinguir significados específicos, separando os ingredientes do bolo depois que ele já está pronto – mas, se o bolo está pronto, a única coisa sensata a fazer é saboreá-lo.

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