Tanta coisa interessante sobre a qual conversar e eu resolvo justamente trazer à tona o mundo das sombras? Depois de assistir ao documentário livro homônimo, foi inevitável me lembrar que a única forma de me ver livre do domínio da minha é encará-la.
Uma sombra não reconhecida costuma provocar um estrago danado. Como uma pessoa que foi presa no porão, ela faz tanto barulho que é incrível como não sejamos capazes de ouvi-la. Somos, isto sim, muito mais eficientes em identificar a sombra dos outros… Sim, isso significa que os outros também sejam capazes de ver a nossa! Para complicar – ou seria simplificar? – as coisas, cada um só é capaz de reconhecer uma sombra em alguém que, de alguma forma, já exista em si mesmo ou mesma. Em outras palavras, naquelas horas em que apontamos nosso dedo acusador para o outro, se estivermos atentos, recebemos um presente: o de descobrir algo que permanecia oculto em nós mesmos. Quando nos damos conta de nossa sombra, ao submetê-la à luz de nossa consciência, ela se torna visível e, portanto, muito mais fácil de se conviver. Esse é o raciocínio central do filme/livro/site. Já vivi experiências suficientes para acreditar nessa tese construída por gente de respeito como Deepak Chopra.
Quando a sombra se esgueira em minha vida, meu coração apressa-se, sinto-me sufocar e me vejo à beira de um abismo. Encará-la é o mesmo que se jogar, o que gatilha em mim um medo primitivo, paralisante. A sensação de morte é muito presente. No entanto, quando, de alguma forma, dou o passo que parecia fatídico, não é ao encontro da morte que me atiro. Não há sequer um abismo, mas apenas um degrau que eu não conseguia enxergar por causa da nuvem de fantasias que eu criei. O abismo era ilusão. Cara a cara, a sombra que me aterrorizava não era assim tão feia quanto a pintava.
Em determinado momento do filme, uma mulher recorda o momento da morte de sua mãe na câmera de gás de Auschwitz. “Quando abríamos os chuveiros, nunca sabíamos se sairia gás ou água”. Mesmo assim, ela, na época com apenas 9 anos de idade, disse que resolveu ter uma atitude de respeito para consigo mesma, o que teria lhe ajudado a sobreviver. O psiquiatra Victor Frankl observou a partir de seu olhar como detento em um campo de concentração como a sobrevivência dos prisioneiros estava realmente muito mais ligada a uma atitude do que a condições físicas. Sobreviviam os que encontravam um sentido em todo aquele sofrimento, é o que ele relata em seu livro “Em busca de sentido”. E se você estivesse… do outro lado?
Em seguida ao testemunho da prisioneira, aparece uma mulher, que sequer era viva durante a Segunda Guerra Mundial e, mesmo assim, era cheia de culpa. Filha de nazistas, ela conta que sempre fez de tudo para que nada em sua vida pudesse triunfar – tudo para que, de alguma forma, ela se punisse pelas atrocidades que seus pais cometeram como colaboradores do regime nazista. Ela se culpava pela sombra de seus antepassados… E se você for pensar bem, tudo o que somos, biológica e culturalmente, vem sendo construído por todos aqueles que vieram antes de nós. A sombra do nazismo, portanto, também era dela. Se você for ainda mais fundo, irá descobrir que estamos todos conectados – fisicamente conectados -, na medida em que não existem espaços vazios entre nós, mas partículas que se tocam umas às outras numa rede totalmente interligada. Além disso, se conseguimos perceber a sombra de um homem como Hitler, é porque, mesmo que pequenininho e escondido, também carregamos algo dele dentro de nós.
Pense nisso na próxima vez que sair por aí condenando alguém por alguma atitude que você abomina. E aproveite para olhar para sua própria mão acusadora para perceber que há apenas um dedo apontado para ele ou ela, enquanto outros três apontam para você.
Gosto tanto desse assunto, pq só dps q resolvi aceitar as minhas sombras comecei a crescer… Mas elas nao se esgotam, somos luz e sombra o tempo todo e, na verdade, o q nos liberta é a aceitacao desse fato e o amor q conseguimos dar a esse nosso lado humanamente obscuro. Todos contemos o Universo em nos, com todas as suas luzes e sombras. Com amor.