Discutindo a relação com sua sombra

quarta-feira, 31 agosto 2011, 07:56 | | 1 comentário
Postado por Fábio Betti 

Tanta coisa interessante sobre a qual conversar e eu resolvo justamente trazer à tona o mundo das sombras? Depois de assistir ao documentário livro homônimo, foi inevitável me lembrar que a única forma de me ver livre do domínio da minha é encará-la.

Uma sombra não reconhecida costuma provocar um estrago danado. Como uma pessoa que foi presa no porão, ela faz tanto barulho que é incrível como não sejamos capazes de ouvi-la. Somos, isto sim, muito mais eficientes em identificar a sombra dos outros… Sim, isso significa que os outros também sejam capazes de ver a nossa! Para complicar – ou seria simplificar? – as coisas, cada um só é capaz de reconhecer uma sombra em alguém que, de alguma forma, já exista em si mesmo ou mesma. Em outras palavras, naquelas horas em que apontamos nosso dedo acusador para o outro, se estivermos atentos, recebemos um presente: o de descobrir algo que permanecia oculto em nós mesmos. Quando nos damos conta de nossa sombra, ao submetê-la à luz de nossa consciência, ela se torna visível e, portanto, muito mais fácil de se conviver. Esse é o raciocínio central do filme/livro/site. Já vivi experiências suficientes para acreditar nessa tese construída por gente de respeito como Deepak Chopra.

Quando a sombra se esgueira em minha vida, meu coração apressa-se, sinto-me sufocar e me vejo à beira de um abismo. Encará-la é o mesmo que se jogar, o que gatilha em mim um medo primitivo, paralisante. A sensação de morte é muito presente. No entanto, quando, de alguma forma, dou o passo que parecia fatídico, não é ao encontro da morte que me atiro. Não há sequer um abismo, mas apenas um degrau que eu não conseguia enxergar por causa da nuvem de fantasias que eu criei. O abismo era ilusão. Cara a cara, a sombra que me aterrorizava não era assim tão feia quanto a pintava.

Em determinado momento do filme, uma mulher recorda o momento da morte de sua mãe na câmera de gás de Auschwitz. “Quando abríamos os chuveiros, nunca sabíamos se sairia gás ou água”. Mesmo assim, ela, na época com apenas 9 anos de idade, disse que resolveu ter uma atitude de respeito para consigo mesma, o que teria lhe ajudado a sobreviver. O psiquiatra Victor Frankl observou a partir de seu olhar como detento em um campo de concentração como a sobrevivência dos prisioneiros estava realmente muito mais ligada a uma atitude do que a condições físicas. Sobreviviam os que encontravam um sentido em todo aquele sofrimento, é o que ele relata em seu livro “Em busca de sentido”. E se você estivesse… do outro lado?

Em seguida ao testemunho da prisioneira, aparece uma mulher, que sequer era viva durante a Segunda Guerra Mundial e, mesmo assim, era cheia de culpa. Filha de nazistas, ela conta que sempre fez de tudo para que nada em sua vida pudesse triunfar – tudo para que, de alguma forma, ela se punisse pelas atrocidades que seus pais cometeram como colaboradores do regime nazista. Ela se culpava pela sombra de seus antepassados… E se você for pensar bem, tudo o que somos, biológica e culturalmente, vem sendo construído por todos aqueles que vieram antes de nós. A sombra do nazismo, portanto, também era dela. Se você for ainda mais fundo, irá descobrir que estamos todos conectados – fisicamente conectados -, na medida em que não existem espaços vazios entre nós, mas partículas que se tocam umas às outras numa rede totalmente interligada. Além disso, se conseguimos perceber a sombra de um homem como Hitler, é porque, mesmo que pequenininho e escondido, também carregamos algo dele dentro de nós.

Pense nisso na próxima vez que sair por aí condenando alguém por alguma atitude que você abomina. E aproveite para olhar para sua própria mão acusadora para perceber que há apenas um dedo apontado para ele ou ela, enquanto outros três apontam para você.

Um comentário para “Discutindo a relação com sua sombra”

  • Gosto tanto desse assunto, pq só dps q resolvi aceitar as minhas sombras comecei a crescer… Mas elas nao se esgotam, somos luz e sombra o tempo todo e, na verdade, o q nos liberta é a aceitacao desse fato e o amor q conseguimos dar a esse nosso lado humanamente obscuro. Todos contemos o Universo em nos, com todas as suas luzes e sombras. Com amor.

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