Quando as relações acabam

domingo, 16 outubro 2011, 13:37 | Tags: , , | 2 comentários
Postado por Clarissa Porciuncula 

Relacionamentos acabam por infinitos motivos. Graves, banais, importantes, fúteis. De todas as formas e cores, assim como são as pessoas. Relações possuem dinâmicas próprias, são feitas por ações e reações do dia a dia, minuto a minuto.

Dividir nossa vida com alguém requer muito tato e atenção, o que não ocorre muito quando estamos apaixonados. Sim, a paixão nos move, mas também nos cega. Podemos atravessar um deserto acreditando ser um paraíso tropical quando movidos por uma paixão. Isso é maravilhoso, mas pode ser também um problema. Para a paixão não há obstáculos, não há problemas e quase não há limites.

Então, sem aviso, a paixão se vai como todas, pois é assim mesmo que ela funciona, deixando sempre um rastro que, na proporção de sua intensidade, pode ser de amor, amizade, respeito, tristeza ou uma certa destruição.

Como custamos a entender que aquela intensidade toda foi criada por nossas emoções sem a ajuda da razão! A paixão é unilateral, individual, egoísta. Quem está apaixonado não tem olhos para quase nada, só para si mesmo. Nos cegamos e nos machucamos na paixão, pois os olhos com que vemos o outro não são reais, o olhar passa pelo sonho, pela ilusão juvenil (quase infantil) do amor eterno. Paixão é imaginação e não há como se alicerçar algo na imaginação.

O amor é mais amplo, respira melhor – enquanto a paixão suspira -, ouve e enxerga mais claramente, suportando melhor as fundações para uma vida a dois.

Estar envolvido com alguém – namorados, casados, amantes – e, de repente dar-se conta de que aquela pessoa com a qual você dividiu alguns meses ou anos de sua vida, com a qual fez planos e construiu o que acreditou ser um alicerce para vida a dois não era bem aquela que se “apresentou” a você inicialmente ou aquela que você “enxergou” e conviveu durante algum tempo; descobrir que seus planos e sonhos foram assentados sobre bases movediças pode fazer uma pessoa perder o rumo.

Existem sinais? Avisos? Alertas? Por que não enxergamos ou não queremos enxergar quando algo aparentemente não vai bem na relação? Por que não damos a devida atenção?
Aqueles contos de fadas com os quais crescemos e conhecemos desde sempre são deliciosos e necessários, mas não são reais.

Quando estamos apaixonados, vemos o que queremos ver, ouvimos o que queremos ouvir, por isso é tão egoísta. Satisfazemos, na paixão, nossas necessidades primárias de amor eterno, sexo, atenção focada no amor e no amado (mesmo que seja aquele amado que desenhamos em nossa imaginação).

Uma paixão pode durar anos. Anos de ilusão, de egocentrismo. Cada um vivendo para si a sua paixão, acreditando estar vivendo um romance ideal, o “somos um”. Nenhum casal é “um”. São e serão sempre duas pessoas, dois conteúdos diferentes e ricos. Pessoas inteiras que juntas somam mais experiências e amores de uma vida. Ninguém completa ninguém e, ao esperar por isso, pela completude através do outro, as pessoas se frustram, se magoam e se torturam quando a ilusão se desfaz. E ela sempre se desfaz.

Resta-nos ficar de olhos bem abertos e ouvidos bem atentos para que, quando a paixão se for, possamos construir, apesar dela, relações fortes e saudáveis, que carreguem consigo toda a intensidade gerada na paixão ou boa parte dela. Que consigamos transformar os suspiros e o fogo em alicerce para uma relação a dois. Onde os dois existam. Onde os dois tenham espaço e se tornem dois com mais força. Um casal.

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