Cada vez mais cegos e surdos

domingo, 15 janeiro 2012, 22:07 | Tags: , , , , | 3 comentários
Postado por Fábio Betti 

Um texto despretensioso escrito em 2008 é o campeão de visualizações e comentários deste blog (leia aqui). Está certo que broxar é um assunto polêmico, mas o que chama a atenção é que a grande maioria dos comentários é de gente contando o seu problema e esperando que alguém ajude a resolvê-lo. E não há cristo que mostre para essas pessoas que ninguém será capaz dessa proeza a não ser elas mesmas. Quem relata desesperado sua tragédia sequer dá uma olhada em outros testemunhos, para perceber que não se está sozinho, ou em meus próprios comentários indicando caminhos simples e acessíveis para uma orientação mais profissional. Parece que falo e ninguém me escuta, o que me faz crer que estamos cada vez mais cegos e surdos.

Segundo o livro do Gênesis, o povo da Babilônia resolveu construir uma torre alta o suficiente para que seu cume chegasse ao céu e, assim, os homens pudessem se igualar a Deus na fama. No entanto, assim que Deus ficou sabendo desses planos, tratou logo de castigá-los criando muitas línguas diferentes, de modo a que eles não mais conseguissem se entender e, assim, jamais fossem capazes de construir a tal torre.

Não se sabe ao certo a época quando se tentou construir a Torre de Babel, muito menos o início dessa profusão, ou melhor, confusão de línguas. O fato é que continuamos sofrendo da maldição divina, ainda muito distantes do entendimento mútuo. Mesmo quando falamos a mesma língua, usamos as mesmas palavras e a mesma sintaxe, não nos entendemos. Chegamos a tal nível de alienação que o ator Claudio Thebas protagonizou e gravou conversas absurdas, onde ele sai pelas ruas dizendo claramente que pretende cometer toda sorte de crimes, como roubos, assaltos, sequestros e até atos de terrorismo, e as pessoas simplesmente lhe dão as informações solicitadas, como se estivessem ouvindo outra coisa. (veja o primeiro episódio da saga clicando neste

3 comentários para “Cada vez mais cegos e surdos”

  • Renata Moraes disse:

    Fábio,
    maravilhoso, como sempre. Seu texto me fez lembrar de um conto, que transcrevo logo abaixo.
    Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos:
    – Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
    – Gritamos porque perdemos a calma, disse um deles.
    – Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?, questionou novamente o pensador.
    – Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo.
    E o mestre volta a perguntar:
    – Então não é possível falar-lhe em voz baixa?
    Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.
    Então ele esclareceu:
    – Vocês sabem por que se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito.
    Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.
    Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas?
    Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê?
    Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena.
    Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram.
    E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olhar, e basta.
    Seus corações se entendem.
    É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.
    Por fim, o pensador conclui, dizendo:
    -Quando vocês discutirem, não deixe que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.
    ( Mahatma Gandhi )

  • Fabio Betti disse:

    Uau! Renata, que lindo esse conto… Obrigado por compartilhar (sussurando)… Beijos

  • Clarissa disse:

    A maioria das pessoas, quando ouvem, ouvem seu próprio interior. Vêem as palavras saindo da boca dos interlocutores ou das letras escritas, porém, muitas vezes o que” vêem/ouvem” não é o que chega aos ouvidos, pois o que ouvem vem de dentro de si mesmos. Como um monólogo. Coisa de doido, mesmo. Escutar (mesmo qdo se lê) é uma arte. Dialogar é uma sinfonia.
    Beijo

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