Diário do Bem-Estar (Dia 1/100)

segunda-feira, 16 janeiro 2012, 20:21 | Tags: , , , , , , , , | 2 comentários
Postado por Fábio Betti 

Quando endereço a mim a pergunta “o que é bem-estar?”, só consigo respondê-la quando a coloco em meu viver. Transformada em ação, ela finalmente ganha significado. Por isso, achei natural tentar respondê-la no movimento, às vezes, lento, às vezes, rápido de minha vida nesse presente contínuo cambiante. Inicio essa jornada na hipótese de que, ao registrar meus momentos cotidianos de bem-estar e, assim, torná-los conscientes a mim mesmo, talvez possa, de alguma forma, conduzir meu viver mais nesse fluxo que me anima do que em seu contrário. Nesse sentido, há aí também uma proposta de reflexão apreciativa, que foca como seu objeto o bem-estar e não o mal-estar. Isso não significa, no entanto, que, a priori, pretenda excluir qualquer pensamento ou sentimento de mal-estar, que, eventualmente, possa surgir no caminho.

A própria forma que escolhi para realizar isso traz em si algo de mal-estar, pois estou firmando um compromisso de registrar diariamente meus momentos de bem-estar, e só o fato de me sentir obrigado a isso já causa algum mal-estar. Por outro lado, também me conecto com o prazer incrível que tinha quando, no auge de minha adolescência, me comunicava diariamente comigo mesmo por meio de um diário. Em cadernos e blocos de anotações, registrava pensamentos, sentimentos e fazeres numa dinâmica operacional que me foi essencial para enfrentar um momento de muita dúvida e solidão em meu viver. Em outras palavras, um diário foi capaz de me tirar do mal-estar para me reconduzir ao bem-estar. Sou muito grato a ele e, neste momento, é com essa energia que me conecto para repetir o experimento nesse novo momento de meu viver.

O que observei hoje que me provocou diferentes sensações de bem-estar foi:
– Depois que chupo a bala Halls de cereja, fica um friozinho deliciosamente refrescante na garganta.

– Logo após registrar no gravador de meu celular o prazer que é chupar a balinha, derrubo duas no piso do carro e, antes de me abaixar para procurá-las e causar algum acidente, começo a rir de mim mesmo. Em segundos, reflito como rir dos erros que cometo é prazeroso, na medida em que me liberta da punição.

– Conversando com Doris, a tradutora e intérprete que acompanha Humberto Maturana e Ximena Dávila em seus programas de diálogo, ouvi uma história muito interessante. Ela me explicava que sua profissão é considerada uma das mais estressantes existentes no mundo, na medida em que se tem que ficar o tempo todo atento para poder interpretar e traduzir o que se ouve quase que no mesmo instante em que se ouve. E aí ela contou que, certa vez, trabalhou para um médico que defendia a clitoridectomia (remoção parcial ou total do clitóris) e que se sentiu muito mal fazendo esse trabalho, a ponto de ter fortes dores na garganta. Refletindo sobre essa experiência, ela se deu conta de que, na verdade, ela é a voz das pessoas para quem trabalha e que isso é uma responsabilidade muito grande. Por isso, ela resolveu passar a trabalhar apenas em situações onde sua voz pudesse estar a serviço de algo que ela, de alguma forma, acreditasse.

– A aula do professor Humberto Maturana sobre a origem da vida e minha descoberta de que os sistemas biológicos estão abertos, no sentido de sua autoperpetuação, ao infinito, até que algo afete esse sistema, me causou um profundo bem-estar.

– O perfume de uma colega que se sentou próximo a mim me transportou para algum outro lugar, um lugar bem refrescante e calmo, um lugar “verde”. Mais tarde, perguntei a ela e descobri que o nome do perfume era Hermes Fleur de Tout.

– Almoçar com amigos, conhecer novos restaurantes, experimentar pratos diferentes é tudo de bom.

– Finalmente, entender o processo de autopoiesis em uma aula de quem o revelou para o mundo realmente é algo que não tem preço. (13/07/2011)

2 comentários para “Diário do Bem-Estar (Dia 1/100)”

  • gizeli disse:

    Adorei, adorei! E lembrei de estar contigo em vários destes momentos de bem estar (tirando a história da Doris e da balinha halls, nos outros eu estava e também me senti no bem estar… inclusive ao aspirar o perfume da De. Lembra? Beijos, querido!

  • Fabio Betti disse:

    Pois é, Gi, você estava lá quando essa história começou, né? Beijos

Comentário

You must be logged in to post a comment.