Uma paixão de Carnaval pode durar?

domingo, 20 janeiro 2008, 18:54 | | Nenhum comentário
Postado por Fábio Betti 

Quanto dura uma paixão? Sempre tive muita dificuldade em responder esta pergunta. Talvez porque só tenha vivido paixões intensas. Não importa se foram longas ou curtas, mas todas foram certamente grandes paixões.

Antes de escrever este texto, assisti ao filme de Sandra Werneck e Walter Carvalho sobre a vida de Cazuza. Estava lá sendo reprisado pela enésima vez em um canal a cabo e, meio relutante, por insistência de Cláudia, me postei na frente da televisão e já peguei a história pela  metade. Nada mais oportuno. Porque Cazuza foi uma pessoa de grandes paixões, tão grandes que acabou consumido por elas. Todos que conheço, quando param para falar de Cazuza, sempre se referem a ele como um grande poeta da música, adjetivo que, invariavelmente, também vem acompanhado de “coitado, morreu tão cedo”.  Seria melhor se dissessem: “coitado, foi consumido pela paixão”. Mas aí já não seria mais coitado. Porque alguém que vivia apaixonado não tem nada de coitado. Coitado mesmo de quem está vivo sem acordar ou dormir embalado por uma paixão. Que vida é essa? Viver assim é mais uma espera do que uma vida. A espera de que alguma coisa um dia aconteça. Até lá, a vida vai escapando aos poucos pelos dedos… Porque a coisa pode acontecer hoje, nesse exato momento, não precisa ser lá na frente, em algum lugar do futuro que pode nunca chegar. E que coisa é essa. Só pode ser a paixão. É isso o que os que perambulam infelizes procuram. Só que, como não sabem o que é a paixão, quando a encontram, não a reconhecem. Ela chega e vai embora, e eles nem se apercebem.

Mas…como se conhece o que é a paixão? O problema é que toda paixão é voraz. Não se diz que paixão é fogo? Pois é isso mesmo: é um fogo que realmente nos consome. Ledo engano, porém, acreditar que ela nos mata. Vamos morrer de qualquer jeito. O que a paixão faz é simplesmente tornar esse caminho para a morte mais intenso e prazeroso. E a danada da gulosa só nos faz companhia quando nos entregamos de verdade a ela. Não há paixão possível sem entrega. Paixão não se doma nem se controla, posto que toda paixão já nasce criativa: vai criando o enredo ao vivo, sem roteiro ou ensaios, tendo apenas o circunstancial como guia. Ela pode ir para um lado ou para o outro assim, num estalar de dedos, porque toda paixão é hipersensível ao instante. E a única coisa que cabe a nós é agarrarmos sua cauda e deixar que elas nos leve por aí.

Já peguei carona em muitas paixões e aprendi com elas que não existe paixão mais longa ou mais curta, nem paixão maior ou menor. O que existe apenas é a paixão do momento presente, esta sim a melhor paixão que existe. Porque as outras já não existem mais, não há como comer nem beber delas e, portanto, elas não nos dão o que precisamos para viver. A única paixão capaz de nos sustentar  é a que estamos vivendo agora, seja ela uma paixão de Carnaval ou o relacionamento de uma vida.

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