Rótulos são para produtos, não para pessoas

quarta-feira, 19 junho 2013, 22:12 | Tags: , , | 1 comentário
Postado por Fábio Betti 

rotulo

Rótulos existem para identificar o conteúdo, as características ou a composição de um produto. A palavra também costuma ser empregada como uma característica definidora, geralmente de caráter redutor, atribuída a algo ou alguém. Toda vez que alguém me identifica com algum rótulo, sou reduzido à categoria de produto, que, no entanto, depende de sua uniformidade para existir. Eu não tenho como ser um produto, na medida em que uniforme é aquele que só tem uma forma, um só aspecto. Eu tenho muitos aspectos e assumo muitas formas diferentes, conforme vou vivendo e me transformando no convívio com meu corpo em permanente mudança. Também me transformo no conviver com outros que, como eu, não são produtos e se transformam à sua própria maneira. Como não sei desenhar, resolvi contar uma pequena parte de minha história, para que algumas pessoas que insistem em me colar rótulos entendam, de uma vez por todas, que não sou um produto. Para aqueles que me colocam no corredor dos bem nascidos, junto da gôndola dos burgueses, mais especificamente, na parte superior, onde fica a prateleira da elite dominante, lamento informar, mas vocês erraram feito.

Nasci numa família de classe média baixa. Meus avós paternos, a quem não tive o prazer de conhecer, imigraram da Espanha com uma mão na frente, outra atrás. Sem estudos, minha avó trabalhou como empregada doméstica, e meu avô como garçom. Por parte de mãe, a história não é muito diferente. Minha bisavó fugiu da Itália durante a primeira guerra mundial com minha avó em sua barriga. Para sobreviver, costurava para fora e acabou conquistando uma clientela fiel o suficiente para que conseguisse se sustentar sozinha. Meu bisavó não teve a mesma sorte: jamais conheceu a filha, morreu lutando. Meu pai viveu anos desempregado, e minha mãe dava um duro danado como secretária para arcar com todas as despesas da casa. Estudei em escola pública até o segundo ano do Ensino Médio. Trabalhei como atendente de lanchonete e office-boy para ajudar a pagar a faculdade. Aceitei o convite de dois amigos para montar uma produtora de vídeo, que faliu em 6 meses. Comecei no mercado de comunicação empresarial como freelancer – escrevia matérias para jornais de empresas. Acabei sendo convidado para um estágio em uma grande empresa. Este foi o inicio de uma carreira que já dura 25 anos. Perdi a conta de quantos dias virei a noite trabalhando. Com isso, perdi também os primeiros anos de meu filho mais velho. O tempo passou rápido… Minha história não termina por aqui. Estou vivo, continuo me transformando.

E você que, de vez em quando, também é colocado em alguma prateleira, qual é a sua história?

Um comentário para “Rótulos são para produtos, não para pessoas”

  • cla disse:

    oi! estou criando uma página sobre essa coisa de rotular pessoas.

    gostei muito do texto, principalmente a parte inicia, quero saber se eu poderia copiar este endereço ou citar partes do que está escrito.

    obrgada!

Comentário

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