Estou na Califórnia, na região conhecida como Vale do Silício. Faço parte de um grupo, em sua maioria, de brasileiros, que participa de um programa chamado Rainforest desenvolvido por uma empresa de venture capital que se propõe a ensinar como criar um ecossistema propício para o nascimento de empresas inovadoras. Acabamos de fazer uma visita a um vinhedo que produz um vinho orgânico que, mais tarde, descobriria tratar-se de um verdadeiro espetáculo. Tanto é que, já muito longe da vinícola, lamentarei profundamente não ter comprado uma segunda garrafa. Mas agora estamos no meio de uma floresta de árvores muito antigas. O professor e um dos sócios da empresa de venture capital explica que aquela é uma rainforest. Torço o nariz, sei o que é uma floresta tropical. Aquela, com pouquíssima diversidade, não me lembra nem um pouco uma autêntica rainforest.

Escolhemos uma das muitas sementes espalhadas pelo solo. O professor explica que uma em cada sei lá quantas bilhões de sementes se transforma em uma árvore. Fico olhando para a semente repousando na palma de minha mão. Observo que ela já está em processo de decomposição. Olho para o solo. Vejo-o coberto de sementes como a minha, em meio a folhas, galhos, terra, umidade. Tudo junto e misturado. Percorro meus olhos e encontro as raízes de uma das árvores milenares que venceram a disputa com as outras bilhões de sementes… Fico pasmo! Como o professor, meus colegas de turma, o mundo não via que aquela árvore não era fruto de qualquer disputa entre sementes, mas era sim fruto de todas elas, as sementes que, como tudo o mais à volta, se transformaram… na árvore? A árvore que veio da semente, nutrida pela água e pelo solo, esse composto cheio de nutrientes, dos quais fazem parte todas as sementes que não se transformaram em árvore apenas na visão de quem ainda não percebeu que nenhuma árvore é só uma semente. E que a colaboração é a lei da natureza, enquanto a competição é uma invenção humana. E que não adianta falar, de um lado, que o segredo das empresas inovadoras é a confiança e, de outro, praticar um modo de viver baseado na competição, na exclusão e no medo. E a semente em decomposição que peguei na mão e me presenteou essa reflexão? Devolvi-a ao solo para que ela seguisse se transformando na árvore.