O impacto das novas tecnologias nos relacionamentos

sexta-feira, 25 abril 2008, 15:32 | Tags: | Nenhum comentário
Postado por Fábio Betti 

Defendendo a magia dos livros, Ziraldo certa vez teria dito que “computador não se leva para cama nem se derrama lágrima em cima”. Penso que ele talvez tenha dito isso antes do surgimento dos super leves notebooks e dos celulares que fazem de tudo, inclusive, ligações telefônicas. As novas tecnologias estão tão presentes em nossas vidas que até esquecemos como era quando vivíamos sem elas. Recebi, por exemplo, um e-mail de uma amiga com um texto tirando um sarro de nossa dependência do super-computador Hal previsto por Kubrick em “2001, uma Odisséia no Espaço” e remodelado nos artefatos da vida moderna. Reproduzo aqui um pedaço desse e-mail:

“Você sabe que está ficando louco no século XXI quando:
1. Envia e-mail ou MSN para conversar com a pessoa que trabalha na mesa ao lado da sua;
2. Usa o celular na garagem de casa para pedir a alguém que o ajude a desembarcar as compras;
3. Esquecendo seu celular em casa (coisa que você não tinha 10 anos atrás), fica apavorado e volta para buscá-lo;
4. Levanta pela manhã e quase liga o computador antes de tomar o café;
5. Conhece o significado de naum, tbm, qdo, xau, msm, dps.
6. Não sabe o preço de um envelope comum…”

Esse último item é visceralmente significativo: não sabemos o preço de um envelope, porque há muito deixamos de enviar cartas. Eu mesmo, apesar de ter me denominado no enunciado desse texto um outsider da modernidade, não sei mais escrever usando lápis ou caneta. A caligrafia de meu filho de 5 anos já é melhor do que a minha! Quando sou obrigado a fazer isso, tenho dificuldade em entender o que escrevi. Meus dedos desaprenderam a fazer curvas, agora eles só sabem bater teclas. E ainda ganharam olhos, de tanta intimidade que construíram com o teclado! Até para me comunicar com minha esposa, o melhor meio também costuma ser o e-mail, que, aliás, pouca gente se lembra que quer dizer “correio eletrônico” (electronic-mail).

Não são só os relacionamentos que sofrem. A língua se empobrece com as novas tecnologias, onde o tempo – a economia dele – é fator determinante. Só que o tempo existe para que as coisas aconteçam dentro dele – apressá-lo, portanto, não passa de mera ilusão. Mas essa discussão de relação é outra história. A história de hoje é que, mesmo que eu tenha um notebook hiper-mega-blaster moderno e um Blackberry que vive me controlando, eu, como o Ziraldo, também prefiro muito mais levar um livro para a cama, onde posso derramar lágrima em cima e viajar sem pressa pelos relacionamentos que minha imaginação conseguir me levar.

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