“Amor é um livro / Sexo é esporte / Sexo é escolha / Amor é sorte”. É assim que Rita Lee começa a cantar as diferenças entre amor e sexo, reproduzindo versos no surrado dualismo ao qual todos nós estamos tão acostumados a recorrer. É a mesma história com bem ou mal, vida ou morte e tantas outras coisas que, por não conseguirmos entender, logo enquadramos de um lado ou do outro. E a maior riqueza costuma estar justamente no “e” e não no “ou”. É a mistura que faz as coisas existirem. Corpo e alma. Natureza e progresso. Homem e mulher. Já pensou se, pegando esses exemplos, tivéssemos que escolher entre um e outro?

Pois para quem está vivendo a dificuldade anunciada no título, há tantas possibilidades em aberto para se recuperar o apetite sexual numa situação onde não falta amor, que esse espaço fica pequeno, muito pequeno.

Para começar, recorro a um diálogo que tive recentemente com um amigo. Ele comentava que sua esposa havia engordado muito durante a gravidez e estava se sentindo bastante deprimida por causa disso. As primeiras idéias que me ocorreram foram: “cuide dela, cubra-a de carinhos, leve-a para jantar…”, ao que ele logo retrucou: “só em sugerir algo com comida, já será o suficiente para ela piorar ainda mais!” Então, me ocorreu que o que ela quer mesmo é ser comida! Comida como nunca! Pois é, está na hora do simpático e apaixonado jovem casal partir com tudo para recuperar seu apetite sexual – e quem já transou com uma mulher grávida, sabe que não há nada que, realmente, impeça de se viver uma relação satisfatória no sentido mais amplo da palavra. Só que, simplesmente, seguir uma lista de afazeres, como se fosse uma receita de bolo, provavelmente, terá um efeito de curto prazo, se é que fará algum efeito.

É preciso resgatar o que se perdeu, pesquisando o apetite sexual em sua fonte primeira, que é a curiosidade. Isso mesmo, a curiosidade. É a curiosidade que faz as crianças os seres mais excitados do planeta. E a ausência dela, causada, muitas vezes, pela ilusão de que se sabe tudo sobre o outro, é a grande responsável pela perda do apetite sexual entre os adultos.

Mesmo que você já tenha transado de todas as maneiras com sua parceira, já a tenha revirado do avesso várias vezes e percorrido cada pedacinho do seu corpo, acredite: sempre haverá algo novo à espera de ser descoberto. Porque não há como ninguém ser conhecido em sua totalidade, e isso – o mistério do desconhecido – é o que, verdadeiramente, alimenta o desejo, a vontade, o tesão.

Se você ama sua companheira e lamenta ter perdido o apetite sexual por ela, comece, portanto, por se conscientizar que você está só no início de uma longa jornada. Tudo o que você precisa é se colocar novamente no papel de desbravador, a exemplo do que você fazia quando era criança, quando se perguntava os por quês de todas as coisas, metia corajosamente a cara em tudo e se lambuzava e se deleitava em uma festa sem fim de cores, cheiros e sabores. Você pode até ter crescido – ou não -, mas essa festa ainda está longe de terminar.